quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

ENTREVISTA

FÍSICA AMBIENTAL: O TRAJETO DE UM CURSO PIONEIRO

Por Gilmara Ribeiro

“(...) quem entrar no curso de Física Ambiental, vai sair do curso e terá, certamente, um emprego garantido, em qualquer lugar do Brasil”.


O Jornal Olho de Boto (JOB) entrevistou o Professor Dr. Carlos José Freire Machado, da Faculdade de Física Ambiental, para saber sobre a experiência de coordenar um curso pioneiro, cuja conclusão se deu em 17 de setembro de 2009, com a colação de grau da primeira turma.

Carlos J. Machado é professor e o primeiro diretor da Faculdade de Física Ambiental, do Campus Universitário de Santarém. Na entrevista a seguir, falará da importância do Curso de Física Ambiental no cenário nacional, visto que foi o primeiro dessa natureza a ser criado no Brasil e, obviamente, o primeiro a ser concluído.

J.O.B: No dia 17/09 recebeu a outorga de grau, em Santarém-Pa, a primeira turma de Física Ambiental do Brasil, como foi pronunciado na cerimônia. Como o senhor vê essa grande responsabilidade de coordenar o primeiro curso de Física Ambiental do país?

Carlos J. Machado: Nós certamente nos sentimos muito felizes e orgulhos de participarmos dessa empreitada original em termos de Brasil, e, principalmente, por estarmos aqui no meio da Bacia Amazônica, no meio da Floresta Amazônica. Então, exatamente por isso, essa conotação ambiental para esse curso que é o curso de Física.

J.O.B: De acordo com o site do Campus de Santarém, o perfil desejado de um egresso do Curso de Licenciatura em Física Ambiental, é que seja “um profissional com sólidos conhecimentos científicos embasados na física, porém, articulados com áreas correlatas, necessárias para um abrangente entendimento dos processos sistêmicos naturais do meio ambiente, em particular do meio ambiente característico da Região Amazônica”. Na sua opinião, a primeira turma, formada no dia 17 de setembro, conseguiu alcançar essa expectativa? Qual é a sua visão a respeito dessa situação?

Carlos J. Machado: Olha, nós com muito orgulho, também, formulamos o Projeto Pedagógico do Curso, desde a primeira até a última linha, e sempre a discussão em relação ao Projeto foi muito intensa com os professores, sobre o que seria melhor, qual é a sequência de conhecimentos que um profissional de Física com essa ênfase ambiental deveria ter. Então, eu acredito piamente, é claro que só a história, o futuro vai poder constatar isso, mas eu acredito que esses objetivos foram plenamente alcançados.

J.O.B: No papel de coordenador de uma turma precursora, quais as principais dificuldades que o senhor pode dizer que enfrentou durante essa iniciativa?

Carlos J. Machado: Bem, todas as dificuldades na realidade aconteceram com relação ao curso, por ser uma turma precursora. Então, foi o Projeto Pedagógico, foi o início do curso, a formação, inclusive, da parte administrativa. Quando o curso começou, eu era tudo: o secretário, o coordenador, porque não existiam funcionários técnico-administrativos para o curso. Então nós tivemos todo trabalho de fazer os concursos para a entrada de professores, e nesse aspecto foi uma dificuldade muito grande, que estamos sentindo até hoje devido à falta de estabilidade dos professores no curso. Por incrível que pareça, o curso que foi aprovado por um projeto de expansão do MEC e engendrado com uma perspectiva de oito professores, que na época foram contratados, hoje em dia, até o fim do ano, nós vamos ter dez professores que já emigraram do curso. Então, essa é uma dificuldade que nós sentimos no curso de não termos ainda estabelecido nenhuma área de pesquisa forte, com exceção da área de Física da Atmosfera, por causa do Projeto LBA que tem certo vínculo com o curso, devido ter professores que são do Curso e estão também no LBA. Assim, com exceção desse aspecto, todos os outros não tiveram continuidade por causa dessa grande movimentação de transferência de professores, dessa falta de estabilidade. Então, isso é um dos maiores problemas que nós sofremos e temos sofrido ainda com isso.

J.O.B: Na sua opinião, a que se deve essa instabilidade na permanência de professores do Curso em Santarém?

Carlos J. Machado: É um fato, por incrível que pareça: os professores que vêm de Belém, você poderia até dizer que ficariam em Santarém, mas não. É um problema de conjuntura social e é preocupante, porque, às vezes, eu me preocupo com isso, até em relação ao futuro da nova universidade. Será que esses profissionais vão vir com a garra e a coragem de ficar na região e fazer pela região? É uma dúvida que eu tenho.

J.O.B: Tendo em vista que a turma chegou ao final do curso com 23 formados, qual a sensação que fica para o senhor como um dos principais responsáveis por esse resultado, visto por nós como positivo?

Carlos J. Machado: É um orgulho imensurável, além do mais, eu até gostaria de notar aqui, que é bastante comum você ver em curso de Física pelo Brasil afora, o número de formandos bem inferior a esse. A realidade da UFPA, por exemplo, em Belém não é diferente, formam-se dez quando muito, em outras universidades, no Sul do país, às vezes cinco, então nós tivemos esse grande galardão de ter vinte e três formandos para uma área que é essencial para a nossa região. Nós vemos hoje na educação básica, particularmente, no Ensino Médio, uma carência enorme de profissionais de Física. A maioria dos professores que atua em Física, na educação básica na região Oeste do Pará, ou diria mesmo, no Pará todo, não é habilitada para dar aula de Física, para ministrar a disciplina Física.

J.O.B: De acordo com a sua avaliação, qual a diferença, por exemplo, no Programa, na matriz curricular, entre o curso de Física e o curso de Física Ambiental, especificamente?

Carlos J. Machado: Os cursos de Física estão muito catedráticos, no sentido de que a estrutura pedagógica desses cursos é muito parecida em todos os lugares do Brasil, e segue um modelo muito antigo, a Física Clássica, a Física Moderna, essa parte que o físico precisa muito, que é a parte de cálculo, de matemática, que deve fazer parte do curso, mas nós tentamos dar um direcionamento para esse Curso de Física e modificamos essa maneira tradicional de formar um físico, para que esteja com os pés no chão, e veja a Física de acordo com a física que existe na sua região. Então, eu vejo que esse é o futuro.

“Apesar de ser um curso de licenciatura, você pode fazer pesquisa em outras áreas”

J.O.B: Uma vez lançados no Mercado de Trabalho, em que setores esses novos graduados podem trabalhar?

Carlos J. Machado: Eles, certamente, têm todo um campo de trabalho que é o Ensino Básico, com a disciplina Física no Ensino Médio, no entanto, existem outras áreas. Podem, por exemplo, continuar a carreira acadêmica, como muitos, inclusive, estão atrás de fazer uma educação continuada, indo para o Mestrado, futuramente, até o doutoramento e, eventualmente, até ser admitido em uma Instituição de Ensino Superior como docente. Em nosso país, em nossa região em particular, não há uma tradição do Físico em empresa, mas eu acredito também que essa realidade vá se modificar a médio prazo.

J.O.B: Que incentivo o senhor dá para quem está querendo tentar o vestibular para o curso de Física Ambiental?

Carlos J. Machado: Bem, eu posso, com certeza absoluta, afirmar que quem entrar no curso de Física Ambiental, vai sair do curso e terá, certamente, um emprego garantido, em qualquer lugar do Brasil, porque em qualquer lugar do Brasil, em qualquer região, seja Norte, Sul, Sudeste, Centro-oeste, nós temos carência de professores de Física. Então, é uma opção que você vai ter um futuro garantido dentro da profissão, além de você poder trabalhar na área de ciência, ser um cientista. Apesar de ser um curso de licenciatura, você pode fazer pesquisa em outras áreas que não sejam da educação também, também na área de educação, certamente, que é uma área extremamente importante, e o nosso país está, inclusive, dando uma importância muito grande com a nova cátedra agora, a essa área. Vários projetos, inclusive, fomentados pelo governo do Estado também estão acontecendo. O projeto Fortalecer é um exemplo de apoio à Educação Básica. Eu acredito que o futuro do país se realize através da educação, mas também existe a área da pesquisa, a pesquisa em Física, a pesquisa científica que é algo que enaltece qualquer mente e coração também. Afinal, nós não somos só mente, não somos computadores, somos corações humanos, é uma viagem que a humanidade começou a fazer desde Galileu, em meados do século XVII, que não tem fim, não tem prazo para terminar e a ciência enaltece qualquer alma humana.

“Então, exatamente por isso, essa conotação ambiental para esse curso que é o curso de Física.”

Um comentário:

QuarterST disse...

Oi =) Tudo bem? *-*
Bora colar no show da @quarterock dia 14.05 no ABC?
Infos sobre o show:
14.05 - São Caetano do Sul/SP - UNDERCLUB
Espaço Factory - Rua Santo Antônio, 101
Com: Mash + Believe.

Beijos.

Mari
@QuarterST