segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Hollywood e algumas indagações

Quem vir constatará: o Coringa enlouqueceu (Batman: o cavaleiro das trevas, dirigido por Christopher Nolan, Warner Bros, 2008). Já não é, pelo menos, aquele que era apenas louco, misterioso e enigmático. O Coringa sempre foi lunático, mas dessa vez ele pirou de vez. Alguns adjetivos lhe devem ser acrescentados agora. A personagem interpretada por Heath Ledger é mais do que lunático: é doentio, sádico, esquizofrênico. Até sua maquiagem tem os contornos visivelmente indefinidos. Mas, mais importante do que isso: o Coringa finalmente assume o papel que sempre desempenhou apenas potencialmente: o de “agente do caos”, como se diz em certa altura do filme. Um terrorista.
Lembremos agora Clube da Luta (David Fincher, Fox Films, 1998). O famoso psicanalista Calligaris chegou a acusar este filme de fascista. Mas, cá entre nós: alguém se lembra de ter aparecido no longa algum elogio explícito ou não a coisas como nacionalismo exacerbado, xenofobia, anti-semitismo, capital, progresso, ou coisa que valha? As personagens parecem, é verdade, tomar o partido do caos social, assim como o Coringa do novo Batman, mas isso não quer dizer fascismo, até onde se sabe.
E V de Vingança (James MacTeigue, Warner Bros, 2006), filme que termina com a explosão do parlamento inglês, símbolo de um sistema de poder? V (assim se chama a personagem principal interpretada por Hugo Weaving), em certa cena, assume-se como monstro criado por um sistema político fictício, mas terrivelmente autoritário (estilo 1984 (Michael Radford, 1984). A solução de V? o terrorismo.
Até a nova animação da Disney e da Pixar, Wall-e (Andrew Stanton, Disney/Pixar, 2008), traz vozes libertárias (e pasmem: não estão cantando ironicamente Guantanamera), mesmo que essas vozes sejam de dois robôs apaixonados (!).
O que acontece? Um ambiente que funciona pelo capital vem produzindo longas cujos temas são a crítica ao próprio capital de que vivem!? Pergunta antiga essa, mas ainda atual. Terrorismo como solução em filmes de um país que não esquece o 11 de setembro!? Isso é perigoso? Ou os que assistem a Hollywood são apenas aqueles que querem uma ocupação divertida para o final de semana e, portanto, nem param para pensar nisso? É uma forma de transformar inconscientemente as “vozes libertárias” em produto consumível, tornando-as inócuas? Inócuas a quem? A George W. Bush?

Rafahel Jean
Letras 2006

Nenhum comentário: