quinta-feira, 21 de junho de 2007

Poesia Santarena: Uma Desvalorização Cultural e Literária

“Este é o Santarém da minha infância!...”.
Equando, ao longe, aspiro essa fragância,
Pelos olhos me escorre o coração!...”
(Padre Manuel Albuquerque)

Santarém é conhecida, nacionalmente, como um dos mais belos pontos turísticos do Brasil, por suas belas praias, como Alter-do-Chão, que atrai centenas de turistas na época do Sairé. Além disso, a cidade também chama a atenção pelo artesanato mocorongo que é outra opção para quem visita a cidade. A música também vem a ser outra grande atração. Cantores apaixonados cantam a terra querida, sua beleza, seus acontecimentos e lendas da região. O encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas já serviram de inspiração para as composições de grandes artistas. As letras musicais exaltam todo sentimentalismo, a paixão e a emoção de ser santareno nato.
A produção literária é riquíssima em temáticas, versos e conteúdo. Alguns poemas trazem vestígios dos estilos literários mais conhecidos: Parnasianismo, Simbolismo, Romantismo e até Modernismo. Mas, infelizmente, não presenciamos uma valorização desse arsenal poético. Vários poetas ficaram no anonimato, os livros, documentos não mencionam os grandes compositores poéticos que existiram. Os mais conhecidos são Felisbelo Sussuarana, Padre Manuel Albuquerque, Paulo Rodrigues dos Santos, Silvério Sirotheau Corrêa, mas não temos um estudo aprofundado a respeito destes autores e grandes contribuidores na literatura mocoronga.
Os jornais O Mariano, Jornal de Santarém, A Cidade,O Commércio dentre outros, trazem ainda em suas páginas amareladas e deterioradas pela ação do tempo, poemas que falam de Amor, de Santarém, da Virgem Maria, os quais estão armazenados nas bibliotecas de Santarém, materiais riquíssimos em termos de pesquisa. A publicação de poemas nos jornais foi a forma encontrada para publicá-los, serem lidos e apreciados pela população.
Poemas de 1915, 1917 a 1929 se encontram nas primeiras páginas destes jornais. De temáticas variadas, estruturas herdadas do parnasianismo, o soneto é encontrado dentro da produção literária santarena dessas épocas. Uso de pseudônimos, uma característica árcade, também foi bastante utilizada pelos poetas mocorongos, muitos assinavam o poema apenas com uma única letra. É uma pena que, por descuido ou mesmo falta de apoio não temos um estudo ou pesquisas que tratem da produção literária de Santarém, há apenas algumas informações acerca de poucos autores e obras.
Mas a poesia santarena deixa as páginas dos jornais e ganha o palco do Auditório Fernando Guilhon da Casa da Cultura João Santos, em 1988, com a I Semana de Poesia, promovida pela Secretaria Municipal de Cultura, coordenada por Milton Corrêa. O evento foi um sucesso. Das 65 poesias, 15 ficaram para a grande finalíssima. O primeiro colocado, com a poesia “Conversando com a Arte” coube a Écio Santos, o segundo lugar, a Antônio Aldo Arrais (poeta alenquerense) com a obra “Queimadas” e o terceiro coube a Alderico Pinto e Silva com a poesia “Vai João”. Além das apresentações das poesias, houve várias atrações musicais, o que também atraiu a presença do público.
A Semana de Poesia foi a forma encontrada para divulgar a produção literária local e as composições musicais, visando ainda a revelação de novos talentos. Vale ressaltar que eventos como estes já não acontecem mais na cidade, uma vez que houve uma desvalorização do público e o prestígio pela produção literária decresceu. Temos obras poéticas encantadoras guardadas em estantes de bibliotecas particulares e muitos poetas escondidos pela cidade que não têm como divulgar seus trabalhos, seja na música ou na literatura.
A produção literária mocoronga é rica e tem muito a ser explorada. Nas escolas pouco se sabe da própria cidade, as obras literárias raramente são pesquisadas ou sequer mencionadas pelos professores, desta forma fica difícil conhecer nossa cultura e nossa própria terra. Parte dessa produção está se perdendo em bibliotecas. Isto tem se dado porque não a valorizamos e com o passar dos anos, parece estar se extinguindo. E com o desprestígio da nossa Literatura vai se perdendo um pouco da nossa história.

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